Santa Catarina avança na produtividade no setor da pecuária leiteira
Em 2024, Santa Catarina se consolidou como o quarto maior produtor de leite do país, com uma produção de 3,3 bilhões de litros, crescimento de 3% em relação a 2023 e representando 9% do total nacional, segundo dados atualizados da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O estado também se destaca pela eficiência produtiva. Apesar de uma redução de 2% do efetivo de vacas ordenhadas, Santa Catarina alcançou a maior produtividade média do país, de 15,9 litros por vaca/dia, um aumento de 47% na última década.
A Analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural, Andréa Castelo Branco, explica que esse expressivo ganho de eficiência leiteira em Santa Catarina ocorreu mesmo com a redução de 27% no número de vacas ordenhadas no período de 2015 a 2024, evidenciando um avanço estrutural e tecnológico na pecuária leiteira catarinense. “Além disso, o estado tem conseguido reduzir a sazonalidade da produção, o coeficiente de variação da captação anual, que era de 27% em 1997, caiu para apenas 6% em 2024, refletindo uma produção mais estável ao longo do ano”, comenta Castelo Branco.
No vídeo abaixo Andréa fala sobre um conjunto de fatores estruturais que foram cruciais para Santa Catarina alcançar estes ganhos de produtividade no setor leiteiro.
No mercado interno, o preço médio do leite caiu 20 centavos, de R$ 2,53/litro em agosto para R$ 2,33/litro nos primeiros dias de outubro, com queda em seis das oito praças analisadas pela Epagri/Cepa. Os preços dos derivados também recuaram: leite UHT (-4%), queijo mussarela (-5%), queijo prato (-5,7%) e leite em pó (-2%).
A analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Andréa Castelo Branco, explica que, embora a queda nos preços do leite seja um fenômeno sazonal, o movimento traz impactos relevantes para o setor.
“A redução temporária das cotações afeta a rentabilidade dos produtores, especialmente das pequenas propriedades mais dependentes da renda do leite. Também pressiona o fluxo de caixa das famílias rurais, diante de custos de produção ainda elevados, e pode gerar desestímulo à produção caso a recuperação dos preços demore”, observa.
Apesar das preocupações, Andréa destaca fatores que apontam para um cenário mais otimista. As importações de lácteos estão em queda, representando apenas 3% da oferta aparente nacional no primeiro semestre de 2025, o que reduz a concorrência externa.
“Além disso, o mercado catarinense está mais equilibrado do que em 2023, sem picos abruptos de preço, e a menor sazonalidade na produção ajuda a conter oscilações extremas. O momento atual é de ajuste natural do mercado e, se o padrão histórico se confirmar, os preços devem iniciar recuperação entre novembro e dezembro, acompanhando o ciclo normal da pecuária leiteira”, conclui a analista.
No comércio exterior, o estado exportou 44 toneladas de produtos lácteos em setembro de 2025, aumento de 120% em relação a agosto, e importou 936 toneladas, alta de 53%. Apesar do saldo comercial ainda negativo, houve melhora de 30% em relação a setembro de 2024.
Boletim Agropecuário de Santa Catarina
O boletim é uma publicação mensal do Centro Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa) e traz dados atualizados sobre produção, preços, clima e mercado, servindo como termômetro do agronegócio catarinense. Confira os destaques do Boletim Agropecuário de outubro de 2025:
Excesso de oferta e baixa demanda afetam mercado do arroz catarinense
O mercado do arroz em Santa Catarina enfrenta uma das maiores retrações dos últimos anos. Entre setembro e outubro de 2025, os preços pagos ao produtor ficaram cerca de 55% abaixo dos registrados no mesmo período da safra anterior, contrariando o comportamento sazonal. O cenário é resultado do excesso de oferta interna, das dificuldades de escoamento e da queda na demanda, o que vem gerando margens negativas e inviabilizando a cobertura dos custos de produção. A situação preocupa o setor, pois pode comprometer a safra 2025/26, já que a redução nos investimentos tende a impactar a produtividade e ampliar as perdas econômicas. No comércio exterior, as exportações catarinenses caíram 53% em relação ao ano anterior, enquanto as importações recuaram 62,7%, refletindo a menor competitividade do arroz brasileiro frente aos países do Mercosul. As estimativas para a nova safra indicam queda de 1,29% na área plantada e de 4,91% na produtividade, resultando em uma produção de 1,22 milhão de toneladas.
Alta nos preços do feijão reflete menor oferta nacional e favorece produtores
Os preços do feijão seguem em alta em Santa Catarina, impulsionados pela menor oferta nacional. Em setembro, o valor médio pago ao produtor catarinense pelo feijão-carioca subiu 4,9%, alcançando R$ 150,84 por saca de 60 quilos, enquanto o feijão-preto teve valorização de 1,03%, com média de R$ 115,96. Nos primeiros dias de outubro, a tendência de alta permanece para ambas as variedades, reflexo dos problemas fitossanitários enfrentados por produtores da terceira safra no Centro-Oeste, que reduziram a oferta e sustentaram as cotações, especialmente do feijão-carioca. Em solo catarinense, as lavouras apresentam boas condições em 100% das áreas avaliadas, embora apenas 4% da área da primeira safra tenha sido semeada até o momento. As estimativas iniciais para 2025/26 apontam redução de 6,7% na área plantada, que deve recuar de 34,9 mil para 32,5 mil hectares. A produtividade esperada é de 2.067 kg/ha, resultando em uma produção estimada de 67,3 mil toneladas, queda de 6,1% frente à safra anterior.
Safra 2025/26 de milho começa com boas expectativas e leve aumento de área
Após vários anos de retração, a área cultivada com milho em Santa Catarina deve crescer 0,83% na safra 2025/26 em relação ao ciclo anterior. A produtividade média estimada é de 8.735 kg por hectare, o segundo melhor resultado da série histórica, superado apenas pela safra 2024/25, marcada por desempenho excepcional. Com isso, a produção total está projetada em 2,25 milhões de toneladas, volume ligeiramente inferior ao do ciclo anterior, mas ainda considerado positivo. Cerca de 51% da área prevista já foi semeada, e as chuvas regulares têm favorecido a germinação. Contudo, as baixas temperaturas e a pouca luminosidade vêm atrasando o desenvolvimento das plantas na fase vegetativa. No mercado interno, o cenário é de estabilidade com leve viés de alta nos preços, apesar da ampla oferta da segunda safra no Brasil e nos Estados Unidos. A sustentação das cotações dependerá da continuidade das exportações e da demanda das indústrias de ração e etanol.
Cresce área de milho para silagem
O cultivo de milho destinado à produção de silagem registra aumento de 1,03% na área plantada em Santa Catarina na safra 2025/26. Até o dia 10 de outubro, cerca de 61% da área estimada para o estado já havia sido semeada. Embora o zoneamento agroclimático permita o plantio desde o início de agosto nas regiões Extremo Oeste e Sul, o avanço das lavouras foi retardado pelas baixas temperaturas e pela pouca luminosidade observadas em setembro e no início de outubro, o que comprometeu o desenvolvimento inicial das plantas.
Área de soja encolhe no estado após mais de uma década de expansão
Depois de mais de dez anos de crescimento contínuo, a área destinada ao cultivo de soja em Santa Catarina deve recuar 1,75% na safra 2025/26, o que representa cerca de 11 mil hectares a menos em comparação ao ciclo anterior. Parte dessas áreas está sendo retomada para o cultivo de milho-grão, silagem e tabaco, especialmente no Sul do estado. A retração nos preços desde 2024 e o início de 2025 explicam essa mudança de comportamento. As baixas temperaturas também vêm atrasando a semeadura, que deve ganhar ritmo após o dia 15 de outubro. Apesar da leve redução, a soja mantém papel de destaque nas exportações catarinenses: em 2025, já foram embarcadas 1,19 milhão de toneladas, movimentando mais de US$ 409 milhões. No cenário internacional, o Brasil segue favorecido pelas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, ampliando sua participação no mercado global, embora as cotações sigam pressionadas pelo excesso de oferta resultante da colheita norte-americana e do plantio sul-americano.
Trigo mantém queda de preços e redução de área plantada
O mercado do trigo segue em retração em Santa Catarina. Em setembro, o preço médio pago ao produtor caiu 2,1%, encerrando o mês em R$ 72,50 por saca de 60 quilos. Apesar da desvalorização, as lavouras apresentam bom desempenho: até o final do mês, 94% das áreas avaliadas estavam em boas condições e 6% em condição média. No campo, as fases predominantes são o desenvolvimento vegetativo (35%), floração (55%) e maturação (5%). Para a safra 2025/26, a área plantada estimada recuou 18,66%, totalizando 100,1 mil hectares. A produtividade média prevista é de 3.538 kg por hectare, ligeiro aumento de 0,67%, resultando em uma produção estimada de 354 mil toneladas, queda de 18,11% frente à safra anterior. A retração da área cultivada acompanha a tendência observada em nível nacional.
Banana tem alta nos preços e leve aumento na produção
Entre agosto e setembro de 2025, os preços da banana-caturra subiram 35,6% em Santa Catarina, reflexo da menor formação de cachos causada pelas baixas temperaturas. Já a banana-prata teve leve queda de 1,3%, mas segue 7,5% acima do valor registrado no mesmo mês de 2024. A expectativa para outubro é de valorização nas duas variedades, impulsionada pela menor oferta nacional. No Litoral Norte, a banana-caturra pode ter alta de até 15,8%, enquanto no Sul, a banana-prata mantém valorização devido a problemas fitossanitários e climáticos. Para a safra 2025/26, estima-se aumento de 0,2% na produção e de 2,1% na área cultivada, que chega a 29 mil hectares, com 84,7% concentrados no Norte do estado.
Aumento da área e produção de alho, mas preços seguem em queda
Até a última semana de setembro, 51% das plantas de alho estavam em desenvolvimento vegetativo e 49% na fase de frutificação. A área plantada cresceu 12,75%, passando de 659 para 743 hectares, com a produção estimada subindo 7,82%, de 7,23 mil para 7,79 mil toneladas. Apesar do aumento da oferta, os preços seguem pressionados: em setembro, o alho nobre classes 4 e 5 teve preço médio de R$ 140,00 por caixa de 10 kg, queda de 12,81% em relação a agosto e 9,53% na comparação anual.
Cebola catarinense enfrenta pressão de preços apesar de aumento na produção
A oferta de cebola no Brasil segue elevada devido à colheita simultânea nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, enquanto Santa Catarina inicia sua safra em outubro. Esse excesso de oferta pressiona os preços ao produtor e reduz as importações, que em setembro atingiram apenas 26 toneladas, vindas da Espanha. No atacado, as cotações caíram 12,2% em setembro, chegando a R$ 37,50 por saca de 20 kg. No estado, a safra 2025/26 está totalmente implantada, com 69% das lavouras em desenvolvimento vegetativo e 30% em bulbificação, apresentando condições favoráveis e produção estimada em 594 mil toneladas, aumento de 6,9% em relação ao ciclo anterior.
Preço do boi gordo sobe, apesar de queda no cenário nacional
Nas duas primeiras semanas de outubro, o boi gordo em Santa Catarina registrou alta de 0,9% sobre a média de setembro, enquanto nos principais estados produtores os preços caíram. Em relação ao mesmo período do ano passado, ajustado pelo IGP-DI, a valorização chega a 12,4%. A pressão baixista no mercado nacional decorre do aumento nos abates: em setembro, os frigoríficos com inspeção federal abateram 2,7 milhões de cabeças, alta de 1,9% sobre agosto e 13,6% frente a setembro de 2024. Mesmo com recorde histórico nas exportações brasileiras de carne bovina em setembro, o volume embarcado não foi suficiente para sustentar preços mais elevados.
Exportações de carne de frango atingem o melhor resultado mensal desde 2019
Santa Catarina exportou 116,7 mil toneladas de carne de frango em setembro, alta de 30,0% em relação a agosto e 10,7% sobre setembro de 2024, gerando US$ 232 milhões, aumento de 30,2% frente ao mês anterior. O desempenho representa o melhor resultado mensal desde maio de 2019, impulsionado pelo redirecionamento de exportações antes destinadas ao Rio Grande do Sul, após foco de influenza aviária em Montenegro, e pela recuperação gradual do setor. No acumulado de janeiro a setembro, o estado exportou 874 mil toneladas, somando US$ 1,78 bilhão, com alta de 2,1% em volume e 6,6% em receita em relação a 2024. Santa Catarina respondeu por 23,3% do volume e 25,5% da receita das exportações brasileiras no período, consolidando-se como o segundo maior exportador nacional.
SC registra recorde histórico nas exportações de carne suína
Em setembro, o estado exportou 72,3 mil toneladas de carne suína, alta de 28,3% sobre agosto e 17,7% em relação a setembro de 2024, gerando US$ 181,6 milhões, maior valor mensal desde o início da série histórica em 1997. Em volume, setembro ficou em segundo lugar, atrás apenas de julho de 2024. No acumulado de janeiro a setembro, o estado exportou 562,2 mil toneladas, com receita de US$ 1,39 bilhão, altas de 6,6% em volume e 14,0% em valor sobre o mesmo período do ano passado, consolidando o melhor resultado histórico para o período. Santa Catarina lidera o comércio nacional, respondendo por 51,5% do volume e 52,0% da receita das exportações brasileiras de carne suína.