Boletim Agropecuário de julho mostra um cenário favorável para a cadeia leiteira
A oferta de leite aparente no estado, que representa a soma de todo o leite captado mais a importação, somou 810,15 milhões de litros no primeiro trimestre de 2025. O volume representa uma queda de 9,11% em relação ao mesmo período do ano passado. Apesar da retração pontual, o total ofertado ainda está 11,5% acima do registrado em 2020, reflexo de um crescimento de 12% na captação estadual nos últimos seis anos. As importações, que chegaram a representar 14,4% da oferta no primeiro trimestre de 2023, recuaram para apenas 2,99% neste início de ano, retornando ao patamar historicamente baixo.
A relação de troca entre leite e insumos também melhorou. Entre abril de 2021 e abril de 2025, os custos com milho caíram 52%, com farelo de soja, 50%, e com ração, 34%, o que reforça o poder de compra dos produtores catarinenses e melhora o cenário para a cadeia leiteira.
No comércio exterior, as exportações catarinenses de lácteos atingiram 95 toneladas em junho, alta de 44% frente a maio e de mais de 1.200% em relação a junho de 2024. Já as importações do mesmo período caíram 35% no mês e 86% no ano, contribuindo para a redução do déficit comercial do setor.

Em relação aos preços pagos ao produtor, houve queda de R$0,13 por litro, de R$2,72 em maio para R$2,53 nos primeiros dias de julho, valor equivalente ao preço de referência do Conseleite em junho. Por outro lado, os preços dos derivados vêm apresentando leves altas nos últimos três meses: o leite UHT chegou a R$ 4,51/litro, queijo mussarela a R$ 32,37/kg, queijo prato a R$ 33,23/kg e o leite em pó a R$ 30,67/kg.
A analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Andréa Castelo Branco, explica que a oferta aparente considera tanto o leite captado pelas indústrias quanto às importações. “Em 2025, as importações tiveram uma participação muito baixa, de apenas 2,99%, o que indica que a redução no volume total está mais relacionada à queda das importações do que à produção interna”, afirma Andréa.
A analista ressalta também que fatores econômicos ajudaram a manter a atividade no campo. “A estabilidade dos preços pagos ao produtor e a redução nos custos com alimentação animal foram fundamentais para preservar a rentabilidade dos produtores e estimular a produção, mesmo com as variações sazonais típicas do setor”, completa. No vídeo abaixo Andréa fala sobre as expectativas e previsões para a cadeia de leite conforme relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgado no mês passado.
O boletim é uma publicação mensal do Centro Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa) e traz dados atualizados sobre produção, preços, clima e mercado, servindo como termômetro do agronegócio catarinense. Confira os destaques do Boletim Agropecuário de junho de 2025:
Produtividade do arroz bate recorde em SC, mas preços seguem em queda
Apesar da produtividade recorde registrada na safra 2024/25 de arroz irrigado em Santa Catarina, os preços pagos ao produtor continuam em queda. A colheita, já encerrada, confirmou uma produção 12,19% superior à do ciclo anterior, impulsionada pelo aumento de 12,54% na produtividade média, que atingiu 8,95 toneladas por hectare, a maior já registrada no estado. O resultado foi favorecido por boas condições climáticas, uso de cultivares mais produtivos, maior investimento em tecnologia e melhorias no manejo.
No entanto, o aumento da oferta tem pressionado fortemente o mercado. Entre junho e o primeiro decêndio de julho, os preços médios ao produtor caíram cerca de 41% em relação ao mesmo período da safra passada. No atacado, a retração também é visível, ainda que menos acentuada. A elevada oferta interna e as dificuldades de escoamento no Mercosul mantêm a pressão sobre os preços, sem sinais consistentes de aumento da demanda externa que possam reverter essa tendência nos próximos meses.
Produção estadual de feijão cresce, mas preços aos produtores seguem pressionados
Em junho, os preços médios pagos aos produtores de feijão em Santa Catarina seguiram pressionados pela grande oferta nacional. O feijão-carioca teve leve queda de 0,46%, encerrando o mês a R$158,86 por saca de 60 kg. Já o feijão-preto registrou alta de 3,99%, cotado a R$124,70/sc, valor ainda bem abaixo dos R$201,02 observados no mesmo período do ano passado. A boa produtividade da primeira safra brasileira e a entrada da segunda safra no mercado nacional contribuíram para a retração nos preços. Além disso, o consumo costuma cair em julho com a chegada das férias escolares, o que amplia a oferta e reforça a tendência de baixa nos valores.
Mesmo com o cenário de mercado desfavorável, a produção total de feijão em Santa Catarina na safra 2024/25 foi positiva. O estado colheu 129 mil toneladas, crescimento de 14% em relação ao ciclo anterior. O bom desempenho da primeira safra compensou amplamente a queda de área e de produção na segunda safra. O clima favorável e o bom rendimento das lavouras impulsionaram a colheita, mas os produtores enfrentam dificuldades na comercialização, já que o feijão não permite longos períodos de armazenagem sem perda de qualidade, forçando a venda em momentos de mercado saturado e, muitas vezes, abaixo do custo de produção.
SC tem safra recorde de milho, mas preços seguem em queda com excesso de oferta
O estado colheu 2,7 milhões de toneladas de milho na safra 2024/25, um crescimento de mais de 25% em relação ao ciclo anterior, mesmo com redução de área plantada. O resultado foi impulsionado pela produtividade recorde da primeira safra, que alcançou 9,8 toneladas por hectare, a maior já registrada na série histórica do estado.
Apesar do desempenho expressivo no campo, o mercado do milho segue pressionado em julho. Nos primeiros dez dias do mês, os preços acumularam queda de 3,9%, dando continuidade ao movimento de baixa iniciado em março, que já soma mais de 10% de retração. O recuo é provocado pela colheita da segunda safra brasileira, que vem forte e amplia a oferta interna. No mercado internacional, a expectativa de safra cheia nos Estados Unidos também pesa negativamente sobre os preços, ainda que a redução dos estoques norte-americanos e algumas exportações pontuais ofereçam leve sustentação. A recuperação depende do aumento nas exportações e de possíveis quebras de safra em outras regiões produtoras do mundo.
Produção de soja cresce em SC e pressiona preços no início de julho
A safra 2024/25 de soja em Santa Catarina encerrou com crescimento em todas as frentes. A área plantada teve alta de 2,25% em relação ao ciclo anterior, somando 829,2 mil hectares, incluindo primeira e segunda safra. A produtividade média avançou 16%, atingindo 3.931 quilos por hectare, o que resultou em uma produção total estimada em 3,27 milhões de toneladas, 18,59% a mais do que na temporada passada.
No mercado, os preços pagos ao produtor refletem esse cenário. Em junho, houve elevação de 2,5%, com a saca de 60 quilos cotada a R$122,79, em média. No entanto, nos primeiros dez dias de julho, os preços recuaram para R$121,63. A retração é influenciada pela confirmação da boa produção nacional e pelas expectativas do mercado internacional, reforçadas pelo último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Preço do trigo cai em junho e área plantada recua no estado
O preço médio recebido pelos produtores de trigo em Santa Catarina recuou 0,43% em junho, na comparação com o mês anterior, fechando a R$75,88 por saca de 60 quilos. O movimento de queda confirma a tendência observada nos últimos meses, mesmo em meio à entressafra e à baixa oferta do cereal no mercado interno. No campo, cerca de 39% da área estimada já foi plantada, com destaque para as regiões de maior altitude, onde os trabalhos estão no início. Boas condições são apresentadas por 98% das lavouras avaliadas, nas quais predomina a fase de desenvolvimento vegetativo.
A estimativa para a safra 2025/26 indica uma retração significativa na área cultivada, que deve alcançar 101,7 mil hectares, queda de 17,34% em relação ao ciclo anterior. O percentual é semelhante ao da estimativa nacional, que aponta redução de 16,5%. Com uma produtividade média projetada em 3.538 quilos por hectare, a produção catarinense de trigo deve totalizar 359,8 mil toneladas, volume 16,77% menor que o colhido na safra passada.
Mercado de banana em SC registra queda nos preços em maio e junho, mas exportações crescem
Nos meses de maio e junho de 2025, os preços ao produtor da banana-caturra em Santa Catarina sofreram forte queda de 25,3%, reflexo do aumento da oferta no mercado. A banana-prata também registrou desvalorização de 16,4%, influenciada pela menor procura devido à presença de frutas da estação concorrentes. Para julho, a expectativa é de valorização dos preços da banana-caturra com a redução da oferta, enquanto a banana-prata deve manter os valores apesar da concorrência com outras frutas. No cenário nacional, as variedades nanica e prata apresentam tendência de alta nos preços em julho, devido à diminuição da oferta causada pelo menor desenvolvimento dos cachos, resultado das baixas temperaturas.
Apesar da oscilação nos preços, as exportações brasileiras de banana tiveram desempenho positivo no primeiro semestre, totalizando 43,8 mil toneladas e movimentando US$15,7 milhões. Santa Catarina responde por metade desse volume, com 21,8 mil toneladas exportadas, aumento de 103% em relação a 2024 e 5,4% em comparação a 2023. O valor das exportações catarinenses atingiu US$7,2 milhões, representando 45,9% do total nacional. A produção estadual também está em crescimento, com estimativa de aumento de 17,5% na safra 2024/25, chegando a 768 mil toneladas, em uma área cultivada que passou para 28,4 mil hectares.
Preço do alho sobe quase 19% em julho enquanto safra catarinense avança
O mês de julho começou com alta significativa de 18,93% no preço ao produtor do alho, que foi comercializado a R$20,00 por quilo. Esse comportamento está relacionado ao término da safra na região Sul e à demora para o início da colheita no Centro do País, o que fez o preço no atacado subir mais de 11% em relação a maio. A cotação do alho das classes 4 e 5 também avançou, alcançando R$25,35 por quilo.
Em Santa Catarina, a safra está em implantação, com cerca de 43% da área estimada já plantada e lavouras em boas condições até o momento. A previsão de produção no estado permanece em 7,76 mil toneladas. No mercado externo, as importações no primeiro semestre somaram 98,7 mil toneladas, 6,35% superiores ao mesmo período do ano passado. Em junho, o volume importado foi de 15,25 mil toneladas, 14,03% menor que em maio. Argentina, China e Egito são os principais fornecedores, representando juntos quase 100% das importações, com preço médio FOB em alta de 12,05%, chegando a US$1,58 por quilo.
Preço da cebola dispara em junho, mas recua no início de julho com oferta interna elevada
Em maio, o preço da cebola ao produtor teve aumento expressivo de 59,79% em relação a abril, chegando a R$36,72 por quilo, embora ainda fique abaixo do custo médio estimado. No entanto, junho começou com forte queda nas cotações, recuando 21,22% para R$30,29 por saca de 20 quilos, devido à elevada oferta interna que persiste desde o início do ano. No mercado atacadista, os preços também recuaram 7,35%, com a saca sendo negociada a R$59,22.
A safra 2025/26 da cebola já tem 10% da área estimada de 19.477 hectares plantada, com destaque para o aumento do uso do semeio direto, especialmente no Alto Vale do Itajaí, motivado pela escassez de mão de obra e avanços tecnológicos em máquinas agrícolas. As lavouras apresentam condições de boas a muito boas. No comércio exterior, as importações brasileiras somaram 133.985 toneladas no primeiro semestre, queda de 46,35% em relação ao ano anterior. Em junho, foram importadas 22,39 mil toneladas ao custo de US$3,9 milhões, com preço médio FOB de US$0,175 por quilo, 9,37% acima de maio. Argentina e Chile foram os principais fornecedores, respondendo por 85,39% e 14,25% do volume importado, respectivamente.
Preço do boi gordo em SC se mantém estável em julho, mas com tendência de queda
Nas duas primeiras semanas de julho, o preço médio do boi gordo em Santa Catarina manteve-se praticamente estável, com oscilação de apenas -0,01% em relação ao mês anterior. No entanto, a análise dos preços diários revela uma tendência de queda na maioria das regiões do estado, o que indica possibilidade de variação negativa mais expressiva no fechamento do mês. Esse movimento acompanha o cenário observado nos principais estados produtores do país.
Apesar da pressão recente sobre os preços, o valor atual representa um aumento expressivo de 28,3% em comparação ao mesmo período de 2024, corrigido pelo IGP-DI. O cenário é influenciado pela oferta remanescente de animais à pasto e pelo crescimento da oferta de bovinos confinados no mercado nacional. A queda no preço do milho, principal insumo da engorda em confinamento, aliada à manutenção de custos ainda superiores ao ano anterior, amplia as margens de lucro e incentiva a expansão da atividade entre os produtores.
Exportações de carne de frango no estado caem em junho, mas acumulado do semestre segue positivo
Em junho de 2025, Santa Catarina exportou 76,4 mil toneladas de carne de frango, registrando queda de 6,3% em relação a maio e de 17,3% na comparação com o mesmo mês de 2024. As receitas totalizaram US$159,3 milhões, queda de 5,9% ante o mês anterior e de 8,7% na comparação anual. O recuo é atribuído aos embargos impostos por diversos importadores após a detecção de um foco de influenza aviária no Rio Grande do Sul, em maio.
Apesar do impacto pontual, o acumulado do primeiro semestre mostra crescimento nas exportações catarinenses, que totalizaram 573,1 mil toneladas, com receitas de US$1,18 bilhão, altas de 1,8% e 9,9%, respectivamente, frente ao mesmo período de 2024. Santa Catarina foi responsável por 22,8% do volume e 24,4% das receitas das exportações brasileiras de carne de frango em 2025, consolidando-se como um dos principais players no mercado internacional. A recente tarifa de 50% sobre importações brasileiras anunciada pelos EUA deve ter impacto insignificante para o setor avícola catarinense, já que os Estados Unidos absorveram apenas 0,003% do frango exportado pelo estado no ano passado.
Exportações de carne suína de SC batem recorde em junho e no semestre
As exportações de carne suína do estado atingiram 69,8 mil toneladas em junho de 2025, representando aumento de 17,9% em relação a maio e de 25,3% na comparação com o mesmo mês de 2024. As receitas somaram US$178 milhões, crescimento de 20,7% sobre o mês anterior e de 38,2% na base anual. Os resultados representam o melhor desempenho mensal da série histórica em valores e o segundo melhor em volume exportado.
No acumulado do primeiro semestre, o estado exportou 369,2 mil toneladas de carne suína, com receitas de US$904,1 milhões, altas de 11,5% e 21,6%, respectivamente, frente ao mesmo período de 2024. Esse desempenho histórico é atribuído à forte demanda asiática, especialmente Japão, China e Filipinas, aos preços mais elevados e à capacidade de Santa Catarina de atender mercados exigentes sem barreiras sanitárias. O estado respondeu por 52,8% do volume e 53,2% das receitas das exportações brasileiras de carne suína no período.
Veja no vídeo abaixo a apresentação completa do Boletim Agropecuário de Julho no canal do youtube da Epagri online.